terça-feira, 12 de maio de 2015

185 F - Conversa - Ecos das palavras do Velho Príncipe.

Ecos das palavras do Velho Príncipe.



Judeu e protestante numa conversa ombro a ombro em frente a
The East India House
Reinier Vinkeles.


Esse autor escreveu um livro de ficção intitulado “Além, No Mar Oceano - Aventuras Transcontinentais da Humanidade”, e alguns capítulos foram publicados no  http://alemnomaroceano.blogspot.com.br/


Nada passa despercebido ao MERCADO, essa palavra que sintetiza as atividades no Mundo do Capital, e isso a mil ‘anos”


“ – MEESTER, MEESTER, MEESTER ...”
“ – O que foi, calma”.
“ – Heer Ricardo. De oude prins está na saleta de espera da Casa Bancaria”.
“ – Door Abraham, Izak en Jakob !!! O que será que o Velho Príncipe quer de mim. De oude mens nunca veio até aqui, me passa a stola”, falou o aflito banqueiro ao pular da cama.
 De pé, todo de preto, apoiado em uma bengala de ébano com castão de ouro na forma de cabeça de águia, com a mão direita no braço de seu fiel Johan, ambos escoltados por dois fortes lacaios vestidos com capas negras onde estavam bordados o Brasão d’Armas da Casa Principesca, com cara de poucos amigos, lá estava o Grande Senhor.
– Hoogheid, a que devo a honra? ”
“ Heer Ricardo. Precisamos conversar com urgência, urgentíssima”.
“ Por aqui. Uitmuntendheid”.
Os dois homens entraram em uma pequena e austera sala, não no escritório do banqueiro, e de rosto quase colocados começaram a conversar.
Vez ou outra, o judeu suspirava alto e torcia as mãos, demostrando grande aflição.
No final de um par de horas, saíram da saleta e se despediram demonstrando em cada face uma grande aflição.
Bastou a porta se fechar para Menahem Ricardo começar a gritar o nome de os seus auxiliares.
A Casa Bancaria Menahem Ricardo & Associados entrou em rebuliço.
Respirava-se luxo e riqueza na sede da Casa Bancaria Menahem Ricardo & Associados.
E não era para menos, os Ricardo era um dos mais ricos clãs judaicos, e os negócios realizados entre Amsterdam, Londres, Nova York, o Levante e Oriente Médio, traziam enormes lucros para eles e seus associados.
Casa Bancaria Menahem Ricardo & Associados tinha até uma filial na América, em Nova York, para sermos preciso.
Seus lucros aumentaram quando um certo ex- pirata, o português Estevão Vilela, trouxe da Casa Bancaria Jacob Aboab da Fonseca, seu grande patrimônio, e propôs se associar a eles nos negócios da Casa Bancaria.  
Meester Ricardo tinha conhecimento dos grandes lucros que a Casa Bancaria dos Aboabs da Fonseca, tinha com os depósitos dos piratas, dos bucaneiros, dos flibusteiros, corsário, que pululavam pelos Sete mares, graça a um de seus associados, um outro português, mas de origem nobre, Dom José João Sancho Dinis Afonso Pedro Rodrigo Ferreira de Oliveira e York de Ribeiro Mousinho de Pernão Marques da Torre das Terras dos Santos Mártires, o décimo nono Conde de Vila Nova das Terras dos Santos, II Almirante dos Mares da Índia, apelidado pelos piratas do mundo de “O Português”, negreiro e pirata, mas na Cia Holandesa das Índias, era o respeitável Capitão José João.
Menahem Ricardo agora lamentava essa associação, e jogando seus braços para o alto, exclamou:
Nada passa despercebido ao MERCADO, essa palavra que sintetiza as atividades no Mundo do Capital, e isso a mil ‘anos”, e chorou
O Mercado sabia que a Casa Bancaria era, também, de propriedade de Estevão Vilela.
E depois do revelado pelo Velho Príncipe eles estariam em péssima situação, bem como todos os judeus de Amsterdam, e através do Mar Oceano.
O Ancião Hebreu, que agora estava chorando com o rosto sobre posto ao ombro deum de seus colaboradores.
O velho Menahem Ricardo não havia esquecido dos fatos acima descritos e rapidamente chamou seus homens de confiança para uma reunião tendo como finalidade traçar uma estratégia para defender a Casa Bancaria e os judeus das artimanhas de Estevão Vilela, agora conhecido como o Comte de La Ruelle.
Shalon”, falou o Velho Judeu e um coro de vozes masculinas respondeu, “Shalon”...
“ Os senhores estão a par da visita do Príncipe da Cia. Holandesa, portanto vou direto ao assunto:
1) ההגנה הטובה ביותר היא התקפה טובה - a melhor defesa é um bom ataque;
2) temos que usar de todos os nossos meios para comunicar a nossos navios, aos navios de nossos associados, aos navios de nossos clientes que ataquem e pilhem os da Cia Holandesa dos Dois Mundos, nos Quatro Mares, no Mar Oceano. Onde estiveram parados ou navegando;
3) que impeçam a qualquer custo não as entregas de mensagens como, também, a vinda de algum capitão que for chamado;
“- Abraham, Isaac e Jacob fiquem, os demais comecem a trabalhar... Mazei’tov”
Fechada a porta Menahem começou:
“- Quero que vocês tratem de todos os grandes clientes e não preciso explicar como. Dos outros sócios trato eu, Mazeiv’ tov”.
Todos os presentes na luxuosa sede Casa Bancaria Menahem Ricardo & Associados sabiam que a Cia Holandesa dos Dois Mundos pertencia a um associado da Casa, o ex- pirata Estevão Vilela, agora conhecido como Comte de La Ruelle, um Título concedido pelo Rei de França.
Chamou um moço pediu além do chapéu de pele o seu antiquado "paletot”, que ia até os tornozelos, e os colocando partiu em direção a "Esnoga", a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, na Visserplein, pensando “המלחמה היא מלחמה” - guerra é guerra, já dizia Yehudah HaMakabi.
O que ia o velho senhor, fazer?
Procurou o Grão-Rabino Samuel Israel Sarphati, um homem verdadeiramente sábio e expos a situação.
Como sempre a antessala do Gabinete do Grão-Rabino estava repleta com toda a espécies de pessoas e de problemas que iam a busca de conselho, mas quando viram entrar o velho Menahem Ricardo, o burburinho cessou e o jovem Rabino, que era secretário do Rabi Samuel, para avisar a chegada do notável homem.
Nenhum dos presentes reclamou que o banqueiro tenha entrado no Gabinete do Grão-Rabino antes deles, nem aqueles que estavam a horas esperando para serem atendidos, sabiam que para aquele homem tão importante para a Nação Judaica estar àquela hora, naquele lugar, é que algo havia acontecido que poderia prejudicar aos judeus e por isso o silencio que imediatamente foi feito a entrada de Menahem Ricardo.
Depois dos cumprimentos de praxe os dois velhos homens se inclinaram sobre a grande mesa do Rabi Samuel e começaram a conversar.
Quantos minutos se passaram?
Ninguém sabe ao certo.
O povo que estava fora sabe que ela foi longa, muito longa.
Com as cabeças baixas a conversa rolava sem parar, até que o Rabi, passou as duas mãos no rosto e levou à direita para debaixo do tampo de seu lugar a mesa e imediatamente um sino foi ouvido na antessala.
Os que estavam pararam e alguns se levantaram para sair do local.
O jovem judeu entrou e ficou surpreso com a palidez do rosto do Sábio Homem.
“ - Avise a todos que lamentavelmente não os poderei atender hoje que voltem em dois dias e chame o Rabi לוֹט Lot para mim, por gentileza”.
Ao ouvir esse nome o rapaz se assustou, mas tentou ao máximo não demonstrar.
Na antessala cumpriu a ordem e pedindo para que Jacob, um rapazinho que sempre estava o assessorando, que ficasse tomando conta, descendo imediatamente para um local que ficava abaixo das rés do chão.
Batendo na porta com força, pois estava nervoso, ouviu uma voz rouca gritar:
“-Não sou surdo. Não precisa bater tanto, nem com tanta força. ”
A grossa porta se abriu e um robusto ancião com cara de poucos amigos apareceu:
“- Rabi לוֹט Lot, o Grão-Rabino o chama com urgência”.
“- “Não seja dramático, pois sei que meu irmão não falou essecom urgência’, isso é de sua autoria”.
O moço ficou vermelho como um pimentão.
Chocando o manto sobre as acostas לוֹט Lot seguiu o rapaz.
Ao entrar na sala viu Menahem Ricardo e imediatamente compreendeu que o problema realmente precisava da ‘dramática urgência’ do jovem Rabino.
O velho banqueiro levantou em saudação ao recém-chegado.
“ לוֹט Lot...”, e de  olhos fechados o Grão-Rabino contou o que estava acontecendo.
“- Convoque imediatamente o Conselho dos Anciãos”, foi à resposta rápida de לוֹט Lot e se levantando saiu para ele mesmo dar as ordens.
E o populacho de Amsterdã, sem entender, viu o corre, corre, dos Estafetas da "Esnoga".
Eles levavam amaradas ao corpo pastas de couro, e dentro delas as convocatórias para os Anciãos Judeus da Cidade.
Algumas horas se passaram.
Paulatinamente os veneráveis anciãos entrevam silencio, cada um de per si, num salão pegado na sala do Grão-Rabino.
Em pouco tempo, estava reunido o Conselho de Anciãos da Congregação de Judeus de origem Sefardita "Talmud Tora", da Sinagoga Portuguesa de Amsterdã.
Ali sentadas estavam respeitáveis figuras de renome eram rabinos, eruditos, filósofos, banqueiros, fundadores de companhias de comércio internacional.
Gente importante cujas famílias foram expulsas da Península Ibérica, por uma intolerância absurda e obtusa, que desempenhavam um papel vital no desenvolvimento do capitalismo nos Países Baixos.
Nunca, no Mundo Ocidental, até o final de 1945, no Segundo Milênio, os judeus gozaram de tanta liberdade de culto e de expressão, como naqueles tempos que hora descrevo e nos Países Baixos.
Assim como a mensagem do Príncipe iria mudar muita coisa, o resultado dessa reunião iria mudar as coisas mais ainda.
O silencio era sepulcral.
Não se ouvia nem o respirar de um deles.
As praxes foram seguidas e a reunião começou.
Falou o Grão-Rabino que a seguir deu a palavra a Menahem Ricardo.
Quando esse acabou, como em uma boa reunião judaica, todos começaram a falar ao mesmo tempo.
O Rabi לוֹט Lot com seu vozeirão ordenou silencio e todos se calaram.
O Grão-Rabino, então, começou pacientemente a dirigir a assembleia.
Muitos falaram, vários pontos de vistas foram externados, nenhuma acusação foi feita e a uma conclusão chegaram depois de horas de deliberações
Fazia-se necessário defender os interesses dos judeus no Mundo conhecido e quanto mais rápidas as ações, as perdas seriam menores.
Depois da decisão tomada a iniciação do processo foi de uma agilidade impressionante.
Os Anciãos se retiraram e a Sala foi tomada por jovens judeus, vestidos de negro e com os dedos sujos de tinta, que começaram freneticamente a escrever ordens em iídiche e outras línguas, enquanto um leve e estranho ruído de cascos de cavalos abafados por panos amarrados a sua volta eram ouvidos na Visserplein.
Nunca ouve tanto trabalho noturno na Sinagoga Portuguesa de Amsterdã e esse trabalho incessante durou por uma semana, noite e dia.
Para maior segurança, os cavaleiros-mensageiros eram despachados de dia fora da cidade de Amsterdã, e a noite saiam da própria Sinagoga.
Muitas vezes essas correspondências eram entregues a homens montados, com roupas diferentes, na periferia da cidade, numa gruta, numa baldeação que para os Anciãos trazia mais segurança, já que os cavaleiros iniciais podiam ser seguidos.
Mais, sabemos que apesar de todo cuidado os boatos ocorrem e para evitar que soubessem o que constavam as cartas, muitas foram despachadas por andarilhos enquanto os cavaleiros iam exatamente para o lado oposto do que estava o destinatário da correspondência.
Os judeus eram mestres, e são, em se corresponderem de maneira que D-Us, Adonai, O Senhor dos Exércitos de Israel, sabe como.
Eles são incríveis. Eles são notáveis.
As cartas chegaram e os destinatários tomaram as providencias cabíveis.
Desde a Queda de Jerusalém, em 70 e.a., o Templo incendiado e a cidade arrasada pelo então General e depois Imperador Tito, os judeus, vivendo em Diáspora, estão acostumados a agir rapidamente em defesa de seus interesses.
Menahem Ricardo afinal pode conciliar o sono, pode dormir as poucas horas do dia como sempre fez a vida toda, mas que diante daqueles fatos não conseguia.
Muitos teriam prejuízos mais seriam suportáveis, os que precisassem de algum tipo de ajuda, eles,
Em pouco tempo, estava reunido o Conselho de Anciãos da Congregação de Judeus de origem Sefardita "Talmud Tora", da Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, o ajudariam”, foi seu ultimo pensamento antes de adormecer.
E ao acordar o seu primeiro pensamento foi:
Para vivermos de acordo com a vontade de D-US temos que seguir seus Mandamentos, suas Ordenanças, seus Ensinamentos, pois ai daquele que deles se desviaram...”
Sacudiu um arrepio e se levantou do leito para, mas um dia de Oração e Trabalho.

  


Menahem Ricardo e sua esposa Emunah
Uma imaginação do autor baseado em vestes judaicas da época.


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